Você
já ouviu/ leu a expressão: “Mad as a hatter” em algum lugar? Não??
Então,
é hora de te contar uma história.
Sabe
essa coisa de que Histórias em Quadrinhos e contos de fadas são apenas histórias??
Acredite, nem sempre é só isso.
Quem
não ama ler os livros de Lewis Carroll e mergulhar fundo na história mais
famosa do autor do século 17, com “ Alice no País das maravilhas” e seus
personagens incríveis como o Coelho Branco que sempre está atrasado ou a Rainha
Vermelha? Mas um personagem que caiu nas graças do público e hoje é favorito é
o Chapeleiro Maluco!
Alice,
famosa por ter características muito peculiares e por nos trazer um lugar em
que nossa imaginação vai o mais longe possível com personagens maravilhosos,
não é somente uma simples história.
Lewis
Carroll usufruiu de fatos reais em que se passavam no período em que escrevia
para contar uma das histórias mais famosas do mundo.
O
Chapeleiro Maluco, nem sempre foi maluco. Ele foi um artesão, real e no século
17, existiram muitos como ele.
Nesse
período, os “chapéus” eram muito mais que simples acessórios de moda. Eles
representavam Status social e poder. Quanto mais sofisticado seu chapéu, mais
poder você tinha na sociedade e com isso, privilégios e respeito.
A
profissão de chapeleiro, hoje, conhecida como “Milliner” tem se tornado cada
vez mais rara, mas já foi alvo de criações incríveis na história, responsável
por difundir um acessório que não sai de moda e até hoje em festas glamurosas
pode ser visto na realeza britânica, justamente pelo seu significado social,
como distinção e adorno importante na vestimenta. Ou vai dizer que você achava
que a Rainha Elizabeth e todos da corte só usavam chapéus por ser clássico e
tradicional?
Claro
que não!! Inclusive, um dos chapeleiros que ainda existem é britânico e já fez
vários modelos para a corte, incluindo Lady Diana e outras marcas famosas no
mundo como Jean Paul Gaultier, Marc Jacobs, John Galliano, Raf Simons,
Jil Sander, Jeremy Scott e Giambattista Valli. Stephen Jones, é um estilista de
chapéus condecorado e de muita importância nas passarelas.
Lewis Carroll, conta uma história real, e vista por ele
durante um período de sua vida em Alice.
A profissão, atingia todos os níveis da sociedade e era
símbolo de importância. Porém, os chapeleiros não tinham digamos, condições de
trabalho tão interessantes como hoje em dia, e o material naquela época ainda
era mais bruto.
Muitos usavam a pele dos coelhos como objeto para a produção
e feltro. Um dos materiais de uso mais intenso na produção para dar acabamento,
e durabilidade ao chapéu era o mercúrio, e como não era possível evitar a
inalação dele a grande maioria dos chapeleiros acabava sofrendo gravemente com
intoxicação, o que também ocasionava inúmeros problemas como distúrbios
neurológicos, desordem de fala, visão distorcida e mentes confusas, muitas
vezes levando a morte.
Com isso, Carroll trouxe à tona em seu livro a história desse
personagem, criando críticas sociais e detalhes do que era o mundo naquela
época detalhando assim, o insano País das Maravilhas, que de maravilhoso,
podemos deixar na dúvida...
O personagem, foi tão abraçado pelo público, que inspirou outro
autor famoso nas histórias em quadrinhos, e o personagem acabou aparecendo
ainda em outro seriado de TV.
Em ONCE UPON A TIME, Sebastian Stan interpreta o Chapeleiro,
e em Ever After High o chapeleiro, tem uma filha chamada Madeline Hatter e
gerencia a loja de chá do personagem.
Vale lembrar que a expressão “Mad as a Hatter” significa
“Louco como um chapeleiro”, e o problema na época era chamado de Síndrome do
Chapeleiro Louco, assim como a cartilha escrita “Style 10/6” que se encontra
nas ilustrações trás o significado de valor do produto naquele estilo que em
média atualmente, seria em torno de 4 reais.
Já nas HQs da DC Comics, temos um personagem chamado também
de Chapeleiro Louco, criado por Bob Kane e Bill Finger, como um dos inimigos do
Batman em 1948.
Mesmo não sendo um dos mais populares, é com certeza o mais
curioso e intrigante enfrentado pelo homem-morcego.
Jervis Techt, era um habilidoso pesquisador cientifico, fascinado
por hipnose e hipnoterapia, e usufruía de seus talentos para criar chapéus
tecnológicos para pegar suas vitimas através da hipnose. Jervis, era apaixonado
pelo que fazia, e tão obsecado pelo Conto de Alice no País das Maravilhas, que acreditava ser o próprio Chapeleiro.
Um dos primeiros crimes orquestrados por ele, foi invadir o
Iate Clube de Gotham para roubar um troféu de ouro, porém Bruce Wayne estava
lá, e ao saber do acontecido, foi atrás do ladrão, que vivia escondido em um
teatro antigo, cheio de partes da produção teatral de Alice.
Com isso, o Chapeleiro foi levado para ser julgado e foi
enviado ao Asilo Arkham pela primeira vez.
Conhecido por ser o criminoso mais bem vestido de Gothan e
apaixonado por festas, num dia de Halloween, montou sua própria peça de Alice,
em uma mansão abandonada, que era chamada de Casa da Colina, e decidiu ir em
busca da Alice perfeita, sequestrando as jovens que estavam perambulando pelas ruas de Gotham, e as forçava a tomar
seu chá da tarde.
Uma de suas vítimas importantes, foi Barbara Gordon, que era
sobrinha do Comissário Gordon, e havia sido adotava por ele após a morte de
seus pais. Com isso, ele a vestiu de Alice, e a obrigava a tomar chá com ele.
Porém, quando ela se recusou, ele surtou. Mas, como Batman já
estava na cola do criminoso, salvou Bárbara de um final trágico que futuramente
tornou-se a primeira BatGirl. Essa foi a segunda vez que o Chapeleiro foi parar
no Asilo Arkham.
Porém esses atos eram comuns ao Chapeleiro que frequentemente
sequestrava moças, hipnotizava e as vestia como Alice para tomar seu chá.
O Chapeleiro já criou vários problemas ao homem-morcego, e num
deles, conseguiu hipnotizar quase metade da Policia de Gothan City, vendendo
chás em uma barraquinha disfarçado.
Jervis Techt passou a ser constantemente internado no Asilo
Arkham e sempre conseguia fugir de alguma maneira.
O mais insano, é que ele gostava desse vai e vem, e com isso,
acabou colocando em sua cabeça, que um dos acessórios que iria ter é a máscara
do homem-morcego.
O Chapeleiro da Dc, é um homem que sofre de depressão, é
obsessivo compulsivo, tem tendências homicidas e sofre de esquizofrenia.
Sua aparência física, vem sendo alterada ao longo dos anos
para as histórias, mas o seu visual
tradicional é caracterizado por um homem baixo, com a cabeça maior do que sua
estatura devido a Microcefalia, e um traje verde, com laço e um chapéu na
cabeça.
As críticas de Lewis Carroll à sociedade britânica da época
são inúmeras. A principal delas, a Rainha Vitoria. Carroll viveu na época da
Inglaterra Vitoriana, que era cheia de padrões, conservadorismo moral rígido e
ao mesmo tempo, inovadora em tecnologia, o que levou a Revolução Industrial e
as mudanças sociais com a chegada da Burguesia. Nesse período, a literatura
tinha duas características importantes: ou era pedagógica, para ensinar lições
aos alunos, ou moralizante com o intuito de mostrar os problemas sociais a
serem tratados com mais importância e Carroll, destoa de tudo isso em Alice.
A personagem, é livre, independente para escolher seu
caminho. Ela inicia sua trajetória entediada e no primeiro piscar de olhos,
surge a oportunidade de ir atrás do diferente, descrito no Coelho Branco, onde
é um rompante para as crianças da época, e Alice enfrenta a Rainha de Copas sem
ser punida pela liberdade de aventura, o que provavelmente, em seu tempo não
aconteceria, já que a sociedade da época levava a punição a sério para todos,
trazendo consigo um padrão moral puritano a ser seguido para quem quisesse ser
parte do Império Britânico e ações ousadas e atitudes que levassem ao
contrário, eram punidas severamente.
Lewis Carroll, rompe o modelo de literatura da época para
quebrar os padrões politicamente corretos, usando o que chamamos de “Nonsense”,
a crítica no sentido único, ao racionalismo e que julgamos ser normal.
O Nonsense, representa a libertação do discurso fixo e ao
padrão imposto. A crítica a Rainha Vitória, ao qual dá nome a esse período na
Inglaterra como “período Vitoriano”, remete a Inglaterra Parlamentarista que
até os dias atuais, é governada por apenas 1 ministro, que dentro de um governo
maluco do País das Maravilhas, mostra que a Rainha de Copas, assim como a
Monarquia atual britânica, que embora seja temida, quase não tem suas ordens
seguidas á risca.
O Chapeleiro, por ser um personagem ligado diretamente a uma
profissão que seguia padrões de moda, foi um personagem que ganhou modernidade,
e justamente por isso, seu visual é sempre com cores, e modelos de peças que
remetem ao período, com as misturas malucas assim como a sociedade vivia. Uma
busca por quebra de padrões, onde muitos não se enquadravam e buscavam ser
parte de algo, e muitos outros, seguiam atentamente ás ordens com medo da
retaliação da monarquia e a perda dos privilégios.
Alice, retrata muito mais que um conto. É a representação das
vontades de grande parte da sociedade naquela época, quando se tratava de
igualdade, liberdade e movimentos de expressão e importância. Alice, é uma
crítica divertida ao mundo, a sociedade e às regras onde muitas ainda hoje,
insistimos em achar normal e evitamos qualquer contato com a mudança.
Alice, não é só um conto infantil, ou uma obra pra manipular
o seu leitor para que ele acredite que existe um padrão correto e obrigatório a
ser vivido pela sociedade.
Ela é uma nova possibilidade de mundo e mais que isso, é um
convite a reflexão da sociedade!